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O SHUTDOWN DO LYON Depois de anos de fartura financeira e glória desportiva, com várias conquistas internas (sete títulos nacionais consecutivos) e boas participações europeias (1/2 final da Champions em 2010), é deprimente o estado actual do Olympique Lyonnais. Em treze partidas no Championat, leva já 5 (!) derrotas e três empates, está atirado para um posto discreto na ordenação de equipas e não parece contar para as decisões. O clube do centro-leste francês deixou-se ultrapassar pelo tempo: não preparou bem a renovação da sua equipa e ficou à mercê de emblemas subitamente mais ricos, à conta do mecenato milionário.  O actual efectivo de jogadores, a despeito de algumas unidades de valia indiscutível, está muito aquém de ser capaz de resgatar a relação de forças de outros tempos e, assim, é previsível que venham a seguir-se alguns anos de travessia no deserto. O afastamento prematuro da Champions na pré-eliminatória (com a Real Sociedad), foi um duro revés financeiro para uma contabilidade "apertada" e sempre necessitada desse financiamento extraordinário. A repetir-se este cenário no futuro, o desinvestimento será uma realidade, agravando a depreciação competitiva da equipa de futebol. A ameaça do apagão ser duradouro está cada vez mais presente e pode tirar definitivamente o Lyon dos centros de decisão nos próximos anos.

BENFICA - SPORTING: ACÇÃO VS. REACÇÃO Quando um clássico termina com o impressivo resultado de 4-3, o papel de um observador torna-se ingrato porque qualquer tentativa de racionalizar é ultrapassada pela dimensão emocional dos factos. Tratou-se, sem dúvida, de um grande jogo no domínio das emoções. Mas sobram diversos pontos de análise. O primeiro prende-se com o controlo emocional. Sempre defendi que parte decisiva do sucesso desportivo, além de tácticas e jogadores, passa pelo domínio dos aspectos mentais do jogo e estes, em muitas circunstâncias, superam a importância relativa dos outros. Não tenho dúvidas de que mais do que os golos, a técnica e as acções colectivas, há partidas de futebol que se ganham e se perdem justamente na mente, na capacidade de gerir emoções e pô-las em benefício do plano de jogo. Ter jogadores mentalmente treinados e capazes pode ser tão importante como dispôr de futebolistas tecnicamente dotados e tacticamente competentes. Uma partida como a de Sábado passado é um exemplo paradigmático de como a dimensão emocional do jogo pode superar planeamentos tácticos. E as vertentes mentais do jogo têm três planos distintos: a acção, controlo e a reacção. As três podem ter idêntica preponderância numa partida. Ao Benfica, colectivo mais experimentado, maduro e treinado, cabia a responsabilidade de agir, face a um adversário menos experiente e claramente num momento mais atrasado do processo evolutivo enquanto equipa.  Com o jogo tacticamente "amarrado" nas zonas de pressão de meio-campo durante grande parte do tempo, foi o Benfica que assumiu a parte activa do jogo, impondo-se não em termos físicos, não em termos tácticos, mas sobretudo numa crença mais efectiva nas capacidades próprias. Durante a primeira metade, e com o resultado a escalar para 3-1, foi possível perceber a incapacidade do Sporting de impôr-se ao oponente, em linha com o que tinha acontecido no Dragão. A equipa demonstra bom espírito, pulmão e entrega, mas não está dotada dos mesmos argumentos. A primeira parte deu-nos uma demonstração de clara incapacidade para sair da zona de pressão do Benfica. À acção dos encarnados, ao assumirem a responsabilidade e agarrarem o jogo faltou a resposta que o Sporting só deu na segunda metade. Leonardo Jardim soube inspirar a reacção dos seus jogadores. Quando se sentiu na iminência de ser eliminado (desvantagem de dois golos), o colectivo leonino acordou. E a tendência do jogo virou, não pela táctica, não pelos aspectos físicos, mas essencialmente pela reacção mental. O Sporting teve a reacção de uma grande equipa, mas faltou-lhe a acção, no exacto momento em que ela se impunha. As grandes equipas fazem-se das três coisas, de acção, controlo e reacção, no fundo de perceber os momentos do jogo, os estados emocionais de cada um e de adequar-se mentalmente às exigências. Seria injusto pedir ao Sporting, uma equipa ainda em fase prematura da sua formação, que dominasse completamente estes conceitos. Não só os aspectos emocionais são os mais complicados de treinar, como levam tempo a produzir efeitos.

 

Nos aspectos técnico-tácticos do jogo, algumas reflexões também:

1) Maurício e Rojo não parecem falar a mesma linguagem futebolística e, além das óbvias insuficiências posicionais de cada um (novamente postas a nu, depois do Dragão), não se entendem enquanto dupla;

 

2) Rui Patrício parece vir acusando a sobrevalorização extemporânea em que o colocaram. Eu acho que ele é um bom guarda-redes, mas não mais do que isso. Não é justo que esperem que ele seja sempre mais do que isso;

 

3) É bom ver Sílvio a caminhar para o seu melhor e a não acusar o período de privação que passou; é um futebolista competente, trabalhador, polivalente e com qualidades. Fazia falta ao futebol português;

 

4) Porque se mexe pouco, não há muita gente a gostar dele. Ironicamente, quando soaram os alarmes da "crise", todos na nação benfiquista clamaram pelo Tacuara. Não é móvel, não é muito aguerrido, é verdade, mas quando a bola é levada lá, ao seu habitat natural, Cardozo decide. E decidiu.

 

5) O que se passa com a marcação zonal do Benfica nas bolas paradas? A marcação à zona exige foco no espaço e reacção rápida. Têm falhado as duas coisas. Jesus precisa de rever processos rapidamente.

 

 

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Novembro 11, 2013

VILLAREAL: A RESSURREIÇÃO DO SUBMARINO Vencido o calvário da passagem pela segunda divisão em 2012/13, depois de alguns anos de sonho e classificações históricas, culminadas pela inesquecível presença na meia-final da Champions em 2006, o clube da Comunidade Valenciana tenta um segundo fôlego de afirmação. Desta vez, porém, o sucesso desportivo da época vem alicerçado em cautelas financeiras, numa criteriosa selecção de jogadores (como foi regra no passado) e na exploração inteligente de paixões regionalistas. Pode ainda ser cedo para avaliar, mas o quarto lugar com treze jornadas decorridas na La Liga é sintomático de ambição e crença. E, já agora, é sinónimo de bom futebol, de uma equipa com ideias e personalidade. O treinador é Marcelino Garcia Toral que, depois de uma passagem curta e sem fulgor pelo Sevilha, procura também um lugar ao sol. Veremos o que dita o resto da temporada.

SOUTHAMPTON: A JÓIA IMPROVÁVEL DA COROA Onze jogos disputados e um curiosíssimo facto merece destaque na Premiership. Duas equipas com uma única derrota: Southampton (3.º) e Everton (6.º)! E para ajudar à surpresa, outro detalhe: o Southampton já visitou o Man Utd (1-1) e o Liverpool (1-0). Não é à toa que se gerou um burburinho à volta de Mauricio Pochettino e seus pares. Na primeira experiência como treinador fora de Espanha, o argentino está a dar nas vistas, mesmo com uma equipa sem estrelas, mas generosa e inteligente. Para o clube, a regeneração não podia ser melhor: a segunda temporada depois da dramática relegação em 2005, após 27 anos consecutivos na Premier League, está a ter um começo mágico! As contas serão feitas no fim mas, neste momento, a glória do pódio é bem merecida. Já no Everton, o hábito de perder pouco foi enraizado por David Moyes nos últimos anos e é agora mantido pelo espanhol Roberto Martinez. Ele já tinha causado impacto quando, no ano transacto, levou o despromovido Wigan a arrebatar a Taça de Inglaterra a um incrédulo Man City, na final de Wembley. Este ano, com melhores jogadores ao seu dispôr e beneficiando de uma estrutura organizada, responsável e com um público exigente, Martinez só tem que dar continuidade e manter o Everton nos lugares cimeiros. Com gente como Leighton Baines, Phil Jagielka (ambos internacionais ingleses), Kevin Mirallas (belga), Gareth Barry ou Lukaku (cedido pelo Chelsea), há matéria-prima para dar certo.

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