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Já não há meias palavras para definir o presente da nação portista. Não me recordo de uma temporada em que os portistas tenham errado tanto na hora de recrutar. É discutível que, do lote Licá, Carlos Eduardo, Herrera, Josué, Ghilas (e estes têm sido os reforços mais utilizados), algum tenha verdadeiramente o quilate Porto. Não é justo pedir a estes futebolistas que reponham o nível qualitativo num grupo que perdeu Hulk, James, Falcão ou Moutinho, nos últimos tempos. É inegável a depreciação do grupo e isso só pode ter reflexos na competição. Depois, a primeira experiência de Paulo Fonseca com as exigências de um clube grande parece ter atirado dúvidas para cima das certezas que (bem) tinha em Paços de Ferreira. Os jogadores andam tristes e desconectados, sem espírito de grupo e tacticamente desorientados. Os dois jogos recentes com o Marítimo não deixam espaço para dúvidas: o colectivo portista está animicamente exausto. E, ao invés de tentar distrair os adeptos da mediocridade futebolística da equipa, recorrendo ao discurso confrontacional tantas vezes usado no Porto, Fonseca deve centrar-se no essencial: acordar os jogadores para o que resta da época.

 

O Benfica é um pau que nasceu torto e teima em não endireitar-se. Fazer em Barcelos o que os encarnados (não) fizeram, depois de saberem do desaire do Porto, é um incómodo eco da temporada passada. O estado do terreno dos gilistas, a favorecer quem defende, não justifica a abnegação abaixo do exigido de alguns jogadores e o desligamento competitivo depois da vantagem conseguida. Dois pontos perdidos que podem fazer a diferença na hora do balanço final. Um filme já visto. Depois de oferecer dois campeonatos ao Porto, compete a Jesus impedir que os fantasmas se tornem na certeza de que, com ele ao comando, o Benfica não está talhado para as grandes conquistas. 

 

É hoje manifestamente claro que Tata Martino não está em sintonia com o passado recente do Barcelona. O código táctico do treinador argentino é exemplo paradigmático de lost in translation, na hora de chegar aos mesmíssimos jogadores que, no último punhado de anos, ergueram o melhor colectivo da história do futebol. Não se trata apenas de constatar a evidência do desbaratamento dos equilíbrios naturais - porque construídos ao longo de anos - entre Xavi, Busquets, Iniesta, Messi e companhia, mas sobretudo de perceber que, onde outrora brotava a harmonia e a magia, agora nascem dúvidas e confusões. Como qualquer treinador que chega a um ambiente novo, Martino tentou incutir a sua filosofia táctica e não percebeu que, mais do que operar qualquer exercício de afirmação individual da sua própria posição (que tem passado, inclusivamente, por uma gestão errática das relações de estatuto e hierarquia no balneário culé), ele ganharia tanto mais respeito do grupo quanto menos inventasse. Defendi aqui que, depois do adormecimento competitivo de uma equipa cansada de ganhar e de um período de alguma deriva táctica (com a doença de Villanova e o consulado provisório de Jordi Roura), a chegada de um novo timoneiro podia ser a melhor coisa a acontecer ao Barça. Teoricamente, a incorporação de uma nova voz de comando podia tornar-se a circunstância perfeita para espicaçar os talentos e levá-los a nova era de conquistas. Ao invés disso, e com meia temporada volvida, o colectivo da cidade condal não é mais do que uma difusa reminiscência de si mesma, com os jogadores descrentes, perdidos e incapazes de exibirem a plenitude das suas capacidades. Martino é o principal responsável, não apenas porque não mostra saber gerir as complexidades emocionais do grupo, tampouco as identidades motivacionais de cada jogador, mas essencialmente pela descaracterização do jogo clássico do Barça da última década. O tiki-taka quase desapareceu, o passe longo e inconsequente repete-se, o rendimento individual dos jogadores cai a pique. A derrota de hoje com o Valencia, no Camp Nou, é um alerta para o futuro imediato. Ainda haverá tempo para emendar o erro de casting que foi Martino?

 

 

 

 

 

A sintonia errática de Tata Martino

Porto e Benfica: dois lados de uma depressão

Fevereira 01, 2014

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