Crónica, crítica de discos e filmes, futebol e observação de jogadores e portfolio de trabalho pessoal 

Esta foi uma semana de grandes confrontos no futebol ibérico. Na vizinha Espanha, Atlético de Madrid e Barcelona mediram forças e, no rescaldo final, ficou tudo na mesma, sobrando apenas uma certeza: esta eficiente máquina de Simeone veio para ficar e insiste em dar ares de candidato, a despeito da natural (e histórica) desvantagem para os dois colossos de Madrid e Barcelona. E não há grandes segredos tácticos no Atleti: segurança, bloco muito coeso, linha próximas, acutilância, disponibilidade física e o talento de alguma das suas unidades a desequilibrar. Contra o Barça, Simeone socorreu-se do costumeiro 4-4-2 (4-5-1 baixo, sem posse), apostando na mobilidade de Diego Costa, sobretudo este, e Villa, na frente e na versatilidade táctica de Koke, à direita, e Arda Turan no outro corredor, bem sincronizados nas compensações defensivas e a juntarem-se à dupla Tiago - Gabi para garantira superioridade numérica frente ao triângulo mágico Busquets - Xavi - Iniesta. Nesse particular, os colchoneros foram lacónicos a interpretar as ideias do seu treino, no habitual estilo utilitário. Do outro lado, a filosofia ofensiva do Barça fixa sempre um trio na frente, mesmo sem bola, à procura de pressionar alto e recuperar rapidamente a bola. Apenas parece faltar a clarividência e o toque fino de outros tempos. 

O Benfica - Porto mostrou um cenário bem diferente: jogo muito mais competente do Benfica, embora num registo mais conservador do que noutros duelos com os dragões. Jorge Jesus parece ter, finalmente, percebido que os jogos grandes nem sempre se ganham com o espectáculo e o coração, mas sobretudo com sagacidade táctica e ponderação. Abdicar do ADN da equipa foi um risco calculado e pode muito bem ter sido uma das melhores decisões do técnico encarnado desde que está na Luz. Bloco baixo e transição meticulosa valeram o triunfo. Não creio que, como se escreve generalizadamente, tenha havido uma influência significativa do desaparecimento de Eusébio no confronto. O desequílibrio entre os dois colectivos deveu-se essencialmente à incapacidade do Porto de se impor. A equipa parece descrente, com pouca harmonia e sem rumo competitivo. Por outro lado, não pode negar-se uma evidência: a grande maioria dos jogadores que chegaram este ano ao Dragão não está à altura daqueles que vieram substituir. Saber se os portistas ainda vão a tempo de emendar a mão é um dos atractivos para o remanescente do campeonato. E desconfio que Quaresma não seja a chave.