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Depois de ter estado na fundação de um dos mais deslumbrantes colectivos da história do futebol, Pep Guardiola levou o seu toque de Midas para a Baviera e convertou o portento futebolístico que o Bayern já trazia de Heynckes, numa orquestra de fino recorte. A matriz de posse de bola tricotada e de circulação enleante importada dos blaugrana, dá já mostras de vingar no colosso de Munique. Ontem, no confronto da Champions diante do Arsenal, o campeão europeu banalizou os londrinos. É certo que beneficiou do facto de ter jogado mais de metade do encontro em superioridade numérica e esse facto pesou muito, mas não pode deixar de se elogiar a excelência da circulação de bola dos bávaros, certamente a causar nostalgia na Catalunha, onde o Barça mágico do tiki-taka parece convertido num tiki-Tata sem nota artística. Mas olhando aquilo que é hoje o Bayern, importa reflectir sobre inúmeras nuances tácticas que Guardiola acrescentou à equipa e que a fizeram crescer.

 

A versatilidade como trave-mestra das matrizes posicionais

Antes de mais, há uma clara aposta na versatilização táctica dos jogadores que, por força das suas qualidades intrínsecas e também em razão da instrução do treinador catalão, aparecem com competências posicionais que não tinham. Lahm é um caso paradigmático disso mesmo. Já era um lateral direito de top e fez-se um médio todo-o-terreno muito completo. Ontem, começou na sua posição de raiz para, depois, com a entrada de Rafinha, subir para a linha de médios. Nessa ocasião, em superioridade numérica, e com Guardiola a apostar tudo para alargar o 1-0, o Bayern sufocou o Arsenal com pressing em bloco alto, com três médios volantes (Thiago, Lahm e Kroos), mais dos laterais muito subidos (Rafinha e Alaba) e um 2+1 na zona de finalização. É precisamente na última linha de construção que se percebe outra das curiosidades deste Bayern de Guardiola. Ao invés da aposta num sistema posicional de alas puros em suporte ao ponta de lança (Mandzukic), o Bayern começou o jogo com Robben e Götze sem posição definida, em trocas de flanco em função das circunstâncias da posse de bola e acompanhando o centro do jogo. Na segunda parte, porém, com a intenção de definitivamente encostar o Arsenal às cordas, Guardiola abriu os alas, encostando Robben à direita e Götze à esquerda, com apoio subido dos laterais e encaixando numa matriz mais "académica". Mais tarde, trocou Mandzukic por Muller, imprimindo dinamismo na frente, baralhando as marcações dos centrais arsenalistas, e chamou Pizarro ao jogo, abdicando de um médio (Thiago) - com o Arsenal remetido ao primeiro terço do campo - para ocupar melhor o espaço entre as duas linhas defensivas do baixo bloco dos londrinos. Depois, a circulação de bola paciente e as flutuações posicionais dos jogadores criaram espaços e aproveitaram um instante de rara subida de Koscielny à área adversária para, num desequilíbrio de marcação pontual (e mal coberto pelo generoso Flamini), matarem o jogo e a eliminatória. 

O novo Bayern: a maschine com toque de Midas

Fevereiro 17, 2014

 

 

Bayern I:  onze-contra-onze

Bayern II:  a primeira fase em superioridade numérica

Bayern III:  a investida final

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