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É um espírito genuinamente inquieto – e, por infalível fatalismo, de uma curiosidade sem limites – aquele que persuade as minhas vontades que, sendo-o, são todavia superiores a mim no instante de captar um ápice em fotografia. O instinto maquinal que projecta o olhar através da lente, vezes sem conta, não é senão a pura manifestação física dessa alma muda, de um desassossegado ente em busca de quietar-se, de achar-se completo. Cada fotografia é, em si mesma, um fragmento do debate entre dois cosmos, uma acidental coincidência entre energias e alentos, as minhas e as do lado de fora, do mundo universal e infinito. O palco de eventos está montado, nele sou mero transeunte, viandante sem destino, atalaia sem torre. À inspiração confio o mais contingente – e incerto – mandato: o de guiar-me os olhos além do que eles avistam na imensa paisagem de probabilidades, na utópica esperança de que, ao menos por uma insólita vez, fique guardado um momento de plácida contemplação. E o espírito corsário há-de repousar sobre o tesouro.

 

Sou apóstolo da fotografia, cultivo-a humildemente nos tempos vagos. Nestas galerias, reparto consigo migalhas de uma paixão que me vence. Os instantâneos são tão meus quanto seus, de todos e de ninguém; apenas ouso desviá-los, por segundos infinitesimais, da rota incontornável de um destino isolado. E atrevo-me a centrá-los no meu próprio vaticínio universal, na confluência de ambos, erguendo-os acima de mim, com um pouco do que sou. Aí, outros ares respiram em meus poros, o orbe aceita a impureza do acto, confia na minha imiscuição e retorna, quando se esvazia na fotografia como uma levíssima brisa, na justa proporção do seu equilíbrio.

 

Chamo-me António Pinto e apesar de uma formação académica voltada para o cinzentismo das cátedras (Economia), tenho uma afinidade umbilical com as mais variadas formas de manifestação artística e cultural. A fotografia é um desses amores antigos, vivida clandestinamente durante anos a fio, estudada e praticada com o mais paciente, militante e amador dos voluntarismos e transformou-se numa das extensões visíveis do meu imo. E é somente isso, e não mais, que exibo humildemente a quem visita este espaço. Sou um simples aprendiz diligente e humilde, um homem inacabado. Talhadas dos lugares e gentes que me abraçam a alma, estas fotografias são, afinal, os mais castiços esboços de mim…

 

Obrigado pela visita.

 

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