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POSTO DE ESCUTA When She Comes

Foi por ocasião do segundo registo (Life Martyred Saints, 2011) que Erika M. Anderson se colocou ao alcance dos radares mediáticos. É certo que, atrás disso, a norte-americana contou alguns anos de préstimos vocais no quase incógnito (e já extinto) quarteto Gowns, mas a emancipação de uma linguagem musical muito própria (e individual) veio a merecer reconhecimento da crítica e originou um fenómeno de culto de dimensão bastante razóavel e que culminou precisamente no êxito de há três anos. De então para cá, o natural crescimento de expectativas para a sucessão do disco foi alimentado pelo lançamento intervalado de singles, nos últimos meses. As reacções foram mistas, dada a natureza aparentemente paradoxal entre as canções divulgadas e que denunciavam continuidade (na abrasiva "Satellites") e ruptura (no ensimesmamento de "3 Jane"), ao mesmo tempo. E o último exemplo constituiu evidência de novos alentos de EMA, fora da órbita de desconstrução e de sons inconvencionais que tão bem haviam servido o segundo disco. Faltava saber se essas novas inspirações tinham cabimento no cardápio EMA.

 

E The Future's Void acaba por promover novos equilíbrios no cancioneiro de EMA, sem destronar os princípios adquiridos, antes moldando-os a uma forma de sentir diferente. Onde existia uma deriva escapista sem forma definida (e que ganhava coerência na desconstrução) e ligada à beleza da imperfeição, com as sensações de suores frios da claustrofobia, há agora uma clara conformação com os fantasmas exorcizados. Essa moderação - e até introspecção -, sem perder o espírito recalcitrante, assenta como uma luva às valências de voz de EMA, entre o delicado e o agreste, mas sempre intensa. Pena é que a produção rudimentar do disco funcione melhor a convocar afinidades industriais óbvias do que a acomodar a ambivalência emocional das canções ("WHen She Comes" é exemplo notório). Mas essa é precisamente a imperfeição de que EMA gosta, mesmo quando está menos inquieta. 

Abril 16, 2014

EMA The Future's Void

Matador, 2014

 

 

7,3

 

Crítica Filho da Mãe - Cabeça
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