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POSTO DE ESCUTA Chateau Lobby 4 (in C for Two Virgins)

Olhando em retrospectiva o que tem sido a vida artística de Joshua Tillman, percebe-se que, aos 33 anos, ele já fez mais do que muitos numa carreira completa. Descoberto casualmente por Damien Jurado, e por ele apadrinhado desde a mudança para Seattle, quando tinha apenas 21 anos, Tillman não mais parou de fazer (boa) música, fosse em registo acústico intimista em nome próprio (assinando J. Tillman), fosse nos muito justamente aclamados Fleet Foxes (como baterista e voz de suporte) ou como Father John Misty, a sua mais recente persona musical, criada depois da saída dos FF. Embora o próprio Tillman desvalorize a sua passagem pela trupe de Seattle, considerando-a um mero exercício circunstancial, a verdade é que, depois desses quatro anos, a música dele abriu-se e o mundo abriu-se para ela. O primeiro registo como Father John Misty, de há três anos, embora não pusesse de parte as premissas que se conheciam, revelou uma escrita à procura de refundar-se. Desanuviar a morbidez grotesca do J. Tillman eremita, quase sempre sozinho com a guitarra e os fantasmas negros, era o passo óbvio para essa reconstrução e fazê-lo implicou acolher orquestrações, melodias mais abertas e um sentido de humor refinado na auto-crítica. 

 

Volvidos três anos, com um casamento de permeio, já quase não há o "velho" Tillman em Father John Misty. A voz vence a depressão de confessionário e o cepticismo contra tudo o que é o romântico. Longe do acabrunhamento do passado, as canções são objectos coloridos (esqueça-se o desconchavo electrónico de "True Affection") e cheios de fantasia, graças às orquestrações de ampla majestade, aos coros e a um requintado pendor melódico. I Love You, Honeybear torna-se, então, um acto extraordinário, para nós e para Tillman. Para ele, é um segundo (e melhor) momento de epifania, em que o alter ego musical se emancipa dos medos e se decreta como ente maior que não se esconde mais. Para nós, com canções deste calibre, a revelação é outra: Tillman como Father John Misty, mesmo com toneladas de cogumelos em cima, pode ter-se convertido no melhor (e mais bem humorado) narrador do amor e seus efeitos colaterais.        

Fevereiro 27, 2015

Father John Misty I Love You, Honeybear

Sun Pop Records, 2015

 

 

Crítica Filho da Mãe - Cabeça

8,9

 

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