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POSTO DE ESCUTA Oya

Filhas do percussionista Anga Díaz, falecido em 2006 e reconhecido membro do colectivo Buena Vista Social Club que levou a música cubana aos quatro cantos do globo, as gémeas Lisa-Kaindé e Naomi nasceram num ambiente musical riquíssimo em influências. Além do atavismo Yoruba que lhes é atribuído - e que está até no nome artístico que escolheram (traduz a divindade das gémeas, ao que parece) - e da proximidade sanguínea com a herança cultural latina dos progenitores (a mãe é a cantora franco-venezuelana Maya Dagnino), residem e foram criadas em Paris. No cosmopolitismo da capital francesa, encontraram nas matizes electrónicas o complemento de modernidade que une todas essas referências e dá sentido contemporâneo à espiritualidade orishá que lhes corre nas veias. Também por isso, o homónimo disco de estreia é coerente: encontra intimidades interessantes entre realidades musicais temporal e geograficamente distantes. O cajón e os tambores batá não podiam deixar de ser transversais aos ambientes emocionais do disco, ou não fossem ferramentas predilectas de Naomi na estruturação minimalista das canções que, depois, crescem com o piano esparso da irmã e demais avulsas aparições.

 

Em todo o caso, é efectivamente de minimalismo que é feito o disco,  umas vezes na mais óbvia tradução de uma espécie de ritual ou oração tribalista, outras vezes tão hipnótico como a mais pura peça de música urbana moderna (James Blake e Frank Ocean são luminárias confessadas pelas próprias) e sempre ancorado numa lógica percussiva muito equilibrada. Ainda assim, o feitiço ressonante das manas Díaz, esta encantadora mestiçagem entre pop moderna, ritmos de cuba e do caribe, jazz desconstruído e R&B que vem apaixonando críticos e melómanos, ganharia com um alinhamento mais curto, a depurar a família de canções daqueles instantes em que umas se parecem mais com outras e a sensação de repetição deslustra o êxito retumbante dos melhores momentos. Posto esse detalhe de lado, há aqui carisma mais do que suficiente para deliciar os apreciadores de bom experimentalismo de fusão. 

Março 18, 2015

Ibeyi Ibeyi

XL Recordings, 2015

 

 

Crítica Filho da Mãe - Cabeça

7,3

 

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