Crónica, crítica de discos e filmes, futebol e observação de jogadores e portfolio de trabalho pessoal
Última actualização
15/05/2015
POSTO DE ESCUTA She Found Now
Volvidas duas décadas, o melhor elogio que pode fazer-se a m b v é dizer que o tempo não adulterou o som de Shields e seus pares com modernidades despropositadas. E isso é o mesmo que assumir que, ao escutar este novo registo retendo na memória os antigos, melhor se percebe como estes eram genialmente vanguardistas. As praxes assinadas no intemporal Loveless são repescadas aqui e não sobeja qualquer sensação de anacronismo; afinal, também parece não existir um intervalo de tempo tão amplo a separar os dois álbuns. É numa confortável contemporaneidade que renasce a identidade dos My Bloody Valentine: m b v é um triunfo do ruído, da densidade guardadora de segredos infindáveis, da guitarra esdrúxula, da androginia das vozes espectrais. Desvendar tudo isto é coisa hercúlea, mas vale o esforço.
Setembro 7, 2013
Pousado que está o imenso pó mediático sacudido pelo retorno dos My Bloody Valentine no início do ano, é hora de olhar este regresso de Kevin Shields e compinchas. A notícia de um novo disco, após vinte e dois anos sem trabalho de estúdio, tomou de surpresa os fiéis correligionários e também aqueles que, mesmo não tendo testemunhado a importância dos irlandeses à época (finais da década de oitenta e princípio dos 90's), depressa engrossaram o contingente de curiosos. Não parece possível dissociar o novo opus do fosso temporário que o separa dos seus antecessores, ou não fosse esta a era do digital e da proliferação copiosa de novas linguagens e projectos musicais que alimentam um consumo tão voraz pela novidade que, na maior parte dos casos, apenas encurta a vida útil de um disco, tornando-o tão rapidamente descartável quanto o tempo até à chegada da next big thing. Nessa sofreguidão, sobretudo nos vínculos cada vez mais disseminados de públicos com artistas, dificilmente os MBV almejariam a replicar o impacto quintessencial que tiveram antes. Lembre-se que eles foram precursores de um género rock que abusava de distorções e reverberações, um som cru e áspero, mas com envolvente sentido melódico a que as convenções colaram alguns rótulos. Shoegazing e noise rock talvez fossem os mais apropriados.
My Bloody Valentine m b v
Edição de autor, 2013
8,3/10