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Confirmada a qualificação para o Campeonato do Mundo, o país rende-se (justamente) a Cristiano Ronaldo. Foi ele o protagonista maior do duplo confronto com a Suécia e, ontem, terá tido um dos desempenhos mais inspirados pela equipa de todos nós, em linha com o impressionante momento de forma que atravessa. Em muitos momentos, fui crítico do capitão da selecção por entender que nem sempre esteve à altura das responsabilidades que advêm do seu estatuto, sobretudo no que toca à performance desportiva na Selecção. É gratificante ver que, finalmente, Ronaldo parece ter-se libertado de alguns fantasmas que pairavam sobre si na hora de vestir a camisola das quinas e que, em última análise, o tolhiam. Hoje, o capitão é um jogador emocionalmente mais solto e de cabeça limpa. E quando assim acontece, sobressaiem as suas raríssimas habilidades. Defendi, em tempos, que a braçadeira de capitão foi irreflectidamente atribuída a Ronaldo demasiado cedo; esse facto, veio a revelar-se, para ele, um indutor de pressão. Se não bastasse a necessidade de corresponder às expectativas dos adeptos de futebol que se habituaram a esperar o Ronaldo extra-terrestre dos clubes na Selecção, a olhar para Ronaldo como o salvador, o homem que resolve tudo, a braçadeira fez dele o timoneiro, o comandante, o símbolo, numa altura em que ele ainda não estava preparado para o ser. Alguns destes detalhes ajudam a explicar o desempenho errático de Ronaldo na Selecção, quase sempre menos explosivo e profícuo do que nos clubes que representou. A essa volubilidade exibicional veio a associar-se uma relação mais ou menos bizarra com o público português e as esquizofrenias próprias do nosso futebol. Tão depressa o erguiam a um altar da genialidade como, nos instantes menos inspirados, o esmagavam com coros de assobios. A conflitualidade desse amor/ódio teve episódios caricatos e que, hoje se percebe, contribuíram para o amadurecimento de Ronaldo enquanto capitão e jogador mais importante da Selecção.

 

Ele é, hoje, um capitão de corpo inteiro, seja no discurso (mais ponderado, consciente e sem os tiques de arrogância do passado), seja em campo. E é no terreno de jogo que, no presente, ele consegue mostrar-se na íntegra e ser na Selecção aquilo que os portugueses sempre quiseram que ele fosse: o mesmo Ronaldo de Manchester e de Madrid. Em consequência disso, se Ronaldo já se havia encontrado com o destino que lhe estava traçado nos clubes, agora está no rumo certo na Selecção também. Os dois jogos do playoff, sobretudo o de ontem, são a evidência inequívoca disso. 

 

Suécia - Portugal: a sagração do herói adiado

Novembro 20, 2013

A exibição de Ronaldo foi mágica, sem dúvida, mas resultou também das circunstâncias tácticas do jogo. A ver-se empatado e já na segunda parte, o seleccionador sueco viu-se obrigado a prescindir do conservadorismo táctico e a subir o bloco. Não foi uma subida radical mas Paulo Bento leu-a habilmente. Libertou Ronaldo de tarefas defensivas, no sentido de ele poder explorar (como gosta) os espaços. Com a subida do bloco sueco, abriram-se as comportas. A linha defensiva escandinava mais longe do seu guarda-redes, deixava atrás de si uma extensa planície para os sprints de Ronaldo. Foi assim que nasceram os golos, suportados no uso criterioso do passe longo e na inteligência e classe de Ronaldo. É certo que houve um momento crítico, depois do 2-1 sueco, mas valeu-nos o espírito de luta dos jogadores, a coesão colectiva, a sorte do jogo e, claro, Ronaldo. Ele não é mais um símbolo adiado. Finalmente.

 

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