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Assuma-se o favoritismo

Outubro 22, 2013

Primeiro facto: A Suécia não é tão forte com a querem pintar. O temor generalizado de que a França viesse a calhar-nos em sorte no playoff que nos separa do Campeonato do Mundo tem óbvio fundamento num histórico de confrontos que nos é manifestamente desfavorável. Aceito isso. Mas que isso não sirva para baixar a guarda agora que se confirma outro opositor, a Suécia. Convém lembrar a campanha dos nórdicos, apenas ultrapassados pelo portento alemão, é certo, mas fazendo parte de um grupo acessível e com um registo relativamente modesto:

-  registaram duas derrotas, em casa com a Alemanha, e na Áustria;

- terminaram em segundo lugar, com três pontos mais do que os austríacos, mas menos um golo marcado e mais quatro sofridos; 

- passaram um valente susto nas Ilhas Faroe: vitória por 2-1, depois de estarem a perder a meia hora do fim;

-  empataram a zero com a Rep. da Irlanda, em casa;

- viraram o jogo caseiro com a Áustria a quatro minutos do fim (2-1).

É natural que seja mediaticamente mais lucrativo destacar o empate a quatro na Alemanha, depois de uma desvantagem de quatro golos e do raro (mas real) relaxamento alemão nesse encontro. 

 

 

Segundo facto: A selecção portuguesa está num momento crítico. Fez uma qualificação medíocre, os jogadores estão emocionalmente abatidos e não trazem à selecção a lógica de compromisso que devia imperar.  Vai ser necessário apelar a uma convicção renovada e incutir um fôlego completamente diferente. Tenho dúvidas de que, nesta fase, Paulo Bento seja capaz de fazer crescer o colectivo tanto quanto é preciso e, nesse contexto, terão que ser magias individuais a puxar o colectivo. Cristiano Ronaldo terá que ser grande, não pode eximir-se à responsabilidade do momento. É o capitão, o nosso jogador mais mediático e terá que fazer valer os seus galões. É nestes episódios que os grandes se tornam históricos. Dos demais, espera-se o que é natural esperar sempre e que pouco tem sido visto: o máximo!

Não tenho dúvidas de que, em duelo de melhores, o melhor Portugal elimina a melhor Suécia. E digo mais: Portugal tem a obrigação de ultrapassar este playoff. Chega de ter receio de assumir as coisas, basta de não promover o culto da exigência na selecção. É tempo de acabar com complexos comezinhos, com meio-termos, com o fatalismo das calculadoras e vitórias morais. Já que falhámos o desiderato perfeitamente alcançável do apuramento directo, agarremos agora a segunda oportunidade. Do outro lado, estará um colectivo honesto, operário, organizado e competente, sem dúvida. Cabe a Portugal ir a jogo com o melhor de si, com alma e nervo e, se assim for, os predicados técnicos hão-de fazer-se impôr. E esgotam-se as desculpas: se Portugal falhar o visto para o Brasil, é o fim da linha para Paulo Bento. Portanto, também o seleccionador não vai mais poder escudar-se no discurso anémico dos últimos tempos. A voz de comando de Paulo Bento tem que transmitir bravura, empenho, espírito de conquista e rigor. Assuma-se o favoritismo que os suecos nos querem dar. Porque é desses activos emocionais que o grupo está carente. Sem eles, expõe-se a dificuldades maiores, particularmente face a uma equipa com as idiossincrasias próprias do futebol nórdico. 

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