Crónica, crítica de discos e filmes, futebol e observação de jogadores e portfolio de trabalho pessoal
Última actualização
15/05/2015
POSTO DE ESCUTA How Could You Babe
Para quem se propunha ser baixista e começou tardiamente a aprender piano, seria difícil adivinhar um debute discográfico ancorado precisamente no mais nobre dos instrumentos de cordas. Já a sonoridade setentista baladeira do disco desvenda porque é que o canadiano Tobias Jesso Jr. é apadrinhado por Chet White, produtor e baixista do extinto duo Girls, também ele descendente dessa escola musical e, portanto, avalista documentado daquilo que Jesso lhe fazia chegar em rústicas demos desde a primeira hora e que, afinal, viria a ser o passaporte para a inevitável emancipação artística como compositor e intérprete. Essa inevitabilidade percebeu-se assim que tomaram expressão pública as criações de Jesso, sobretudo pelo falatório cibernético em redor de "Hollywood", primeiro (ainda em 2014), e especialmente a gloriosa "How Could You Babe", duas amostras tremendas do romanesco moderno do canadiano. Nem se trata de ser um baladista como nunca se (ou)viu, tampouco de fazer música medularmente revolucionária; é da simplicidade de estrutura e, sobretudo, da coerência melódica que respiram as canções - Randy Newman e John Lennon são luminárias omnipresentes - que brota o seu fascinante magnetismo.
Não faltam predicados a Goon para recolocar a balada fantasiosa no mapa mediático da música contemporânea, sem concessões e fugindo ao preconceito com que muitos tentam diminuir estas peças, esquecendo o essencial: se elas sobreviveram à voragem YouTube, passaram pelo crivo do estúdio sem perderem essência e continuam assim cativantes, bem construídas e irresistíveis, certamente não lhes falta solidez. E isso só pode querer dizer que não são canções de somenos.
Abril 17, 2015
Tobias Jesso Jr. Goon
True Panther, 2015