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POSTO DE ESCUTA Delorean Dynamite

Mesmo sendo adulado há imenso tempo por uma já considerável falange de seguidores, seja por força de sensivelmente uma década de sucessivas edições avulsas - a maior parte das quais no formato remix -, seja pelo trabalho de produção em alguns discos de gente importante, o norueguês Todd Terje não parecia sentir-se seduzido pela ideia de editar um álbum à séria. Tanto é assim que, ao debruçar-se sobre isso pela primeira vez, e atrás do gigantesco hype que logo se ergueu quando se soube que o ia fazer, saiu-se com uma ironia genial para baptizar o trabalho: It's Album Time. A escolha do título pode até ter sido uma boa forma de brincar com a noção de timing e, ao mesmo tempo, alijar uma parte do ónus da expectativa imensa que se colocou à frente de si e que, em boa verdade, o franco acanhamento de Terje sempre foi rechaçando com razoável sucesso. A despeito disso, ele vem sendo progressivamente entronizado como um dos protagonistas maiores da nostalgia disco na Europa, sobretudo nas latitudes nórdicas, e tardava já o primeiro disco, prenunciado vezes de mais nos últimos anos. De idêntica forma, este longuíssimo tempo de estágio auto-induzido permitiu a público e crítica tirarem as medidas ao som de Terje, a ponto de o primeiro contacto com o disco ser envolvido na inevitável familiaridade entretanto adquirida.

 

Como não podia deixar de ser, tudo é construído nas energias planantes dos sintetizadores e em demais adornos sintéticos, afinal as matérias quintessenciais do laboratório de Terje. Depois, há aquela circunspecção faustosa que ele aprendeu a domar como poucos, entre o exotismo espacial, os sons cósmicos e a deriva ecléctica própria de um artesão habituado às celebrações da noite. Nesse sentido, It's Album Time é um exercício de electrónica hedonista porque, atrás da formatação disco-espacial, não tem poiso estético único e aceita com desassombro algumas interferências de estilo (ouçam-se "Svensk Sas" e "Alfonso Muskedunder") e as consequentes variações rítmicas. Essa versatilidade e sobretudo a forma como as peças evoluem sem perder o rumo e o sentido, ora com percussões e texturas mais inflamadas, ora apontando à melancolia (por exemplo, na iluminada versão de "Johnny and Marr"), é um atestado da competência de Terje. Mas esse gosto pela saturação (muito equilibrada) das texturas é um amor antigo. Só lhe faltava o compromisso. Ele aqui está.  

Abril 18, 2014

Todd Terje It's Album Time

Olsen, 2014

 

 

7,7

 

Crítica Filho da Mãe - Cabeça
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