top of page

POSTO DE ESCUTA Keep it Healthy

Quando as Warpaint se apresentaram editorialmente ao orbe musical, então pela mão produtora de John Frusciante no EP Exquisite Corpse, de 2008, viram apontar-se-lhes quase automaticamente a atenção de uma legião de curiosos para a qual nem sequer estariam preparadas. Na ocasião, as repercussões do EP ecoaram pelas vias cibernéticas, multiplicando a projecção mediática de um colectivo que, pouco tempo antes, se havia reunido num mero assomo de diletantismo. A proposta do quarteto de Los Angeles nem era propriamente inovadora, mas movia-se num art-rock mais ou menos ensimesmado e com laivos ligeiros de psicadelismo tímido, com o baixo e a secção rítmica a darem coordenadas para invocar estados de alma muito pessoais. Num certo sentido, era música quase confessional, voltada para dentro e contida no seu próprio marasmo emocional. A coisa tornou-se mais monótona no primeiro compacto, The Fool, dois anos depois, a ponto de parecer que as Warpaint tinham desbaratado irremediavelmente o impacto da estreia, amordaçando-o numa roupagem musical monocórdica e que hipotecava as energias motrizes a uma produção baça e sem chispa.

 

Talvez por isso, este álbum homónimo exibe um som mais aberto e mais consciente dos seus pontos fortes. O que é o mesmo que dizer que é mais eficazmente disfarçado o fio-de-prumo que dá conforto às Warpaint - e de que teimam em pouco ou nada desviar-se - e sai resgatada uma orgânica mais assertiva na percussão e no uso do baixo, tão caros às Warpaint. Ainda assim, a reordenação de recursos não chega para diminuir a distância entre ouvinte e matéria ouvida e esse foi sempre o seu óbice maior. A música das Warpaint é assim mesmo, uma insinuação distante e introvertida, enclausurada numa redoma muito própria e intocável. E esse egocentrismo será intolerável para melómanos que gostam de sentir-se parte daquilo que ouvem. 

 Janeiro 25, 2014

Warpaint Warpaint

Rough Trade, 2014

 

 

6,4

 

Crítica Filho da Mãe - Cabeça
bottom of page