Crónica, crítica de discos e filmes, futebol e observação de jogadores e portfolio de trabalho pessoal
Última actualização
15/05/2015
4) A histórica lacuna na posição 9.
Chega a ser confrangedor perceber que, geração após geração, o futebol português continua incapaz de produzir um verdadeiro n.º 9, matador e consequente. Postiga é generoso e, hoje por hoje, é a melhor solução de que dispomos, mas é frustrante perceber que, em muitos momentos de jogo, a equipa sente a clara orfandade de uma âncora na frente que saiba suster a bola para permitir a verticalização do jogo. A ausência dessa referência é, também, um dos indutores da redundância do jogo português. Falta um homem que permita ganhar tempo para a subida do bloco e, depois, que seja competente a finalizar. E trocar Postiga por Hugo Almeida, a despeito das diferentes características de cada um, não acrescenta rigorosamente nada ao jogo da equipa.
Confirmou-se aquilo que aqui escrevi. Portugal é melhor do que a Suécia e continua a ter, na minha opinião, a obrigação de qualificar-se para o Campeonato do Mundo, especialmente agora, depois de vencer a primeira contenda do duplo confronto do playoff. Percebeu-se que a estratégia dos nórdicos passava essencialmente pela contenção, pela cobertura dos espaços num bloco tão baixo quanto a sua ambição de ganhar o jogo da Luz e competia a Portugal, como sempre defendi, assumir-se como favorito. A exibição foi descolorida, é um facto, mas teve coração e isso é o que se pede quando falha a inspiração. Faltou profundidade nas alas (os suecos montaram um esquema táctico que apostava na superioridade numérica nos corredores), faltou imaginação e faltou rasgo. O jogo português foi redundante e previsível, salvou-se o resultado. Justíssimo, diga-se. Mas há elementos sobre os quais convirá reflectir:
1) Não há um cérebro no meio-campo português.
O trio de meio-campo é competente, sabe jogar, mas nem Veloso, nem Moutinho, nem Meireles são estrategas. E em jogos de espaços curtos e defesas densas, como o de ontem, essa omissão é mais notada, sobretudo pela dificuldade no passe de ruptura e na variação do jogo.
2) O ocaso de Nani.
Já o escrevi e insisto: Nani é, hoje, apenas um resquício do desequilbrador que já foi capaz de ser. Perde-se amiúde em dribles inconsequentes, não imprime velocidade ao jogo e, como aconteceu ontem, quase sempre decide mal no momento de soltar a bola. Nesta altura, não parece emocionalmente equilibrado e, a bem da selecção, deve questionar-se se merece o lugar cativo que muitos teimam em atribuir-lhe.
3) A evolução de João Pereira.
Aos 29 anos, atingiu a maturidade competitiva plena e tornou-se um atleta de alto rendimento. Sem ter perdido espírito de competição, está hoje mais temperado e tacticamente evoluído. Defende melhor, coloca-se inteligentemente no campo e é criterioso quando se integra no processo ofensivo.
A vitória da redundância
Novembro 16, 2013